segunda-feira, 19 de abril de 2010

A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO

(Extraído do Livro "Tempo Final 3")

Por Sha'ul Bentsion

I – As Advertências e os Sinais

"Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda; Então, os que estiverem em Yehudá, fujam para os montes;" (Matitiyahu/ Mateus 24:15-16)

Aqui temos uma advertência bastante interessante e pertinente de Yeshua, para atentarmos para a "abominação da desolação." A referência de Yeshua é à profecia de Dani'el 9:27, que diz:

"E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador."

E ainda Dani'el 12:11 que diz:

"E desde o tempo em que o sacrifício contínuo for tirado, e posta a abominação da desolação, haverá mil duzentos e noventa dias."

Podemos perceber desses trechos, e do comentário de Yeshua e de Dani'el três coisas fundamentais:

1 – A "abominação da desolação" é um ato de profanação ao Beit HaMikdash (Templo).

2 – Esse ato de profanação será cometido pelo falso messias [anticristo] e pelos seus seguidores.


3 – O ato em si servirá de alerta para aqueles que habitarem em Israel no fim dos dias de que deverão fugir, pois a falsa aliança de paz do falso messias estará prestes a ser descumprida, e começará a mais brutal
perseguição de toda história do povo.

Como acontece em outros momentos, repare que Yeshua não explica a seus talmidim (discípulos) o que era a "abominação da desolação". É como se eles já estivessem plenamente familiarizados com o conceito.


II – O que é a Abominação?

A pergunta que temos que nos fazer é: O que é que um judeu do primeiro século compreendia como "abominação da desolação"? Existe algo mais nas Escrituras que possa nos esclarecer sobre o assunto, uma vez que Yeshua não dá detalhes?


Para entendermos isso, devemos voltar a um de nossos estudos sobre o falso messias. Nele, vimos que Sha'ul (Paulo) menciona "O Iníquo" (o homem contrário à Torá) porque sabia que esse era um dos apelidos de Antíoco Epifânio entre os judeus ("haReisha", na literatura judaica), à época da revolta dos Macabim (Macabeus). Para maiores detalhes sobre isso, veja o artigo sobre esse tema.


De fato, vemos que Macabim (Macabeus) fala sobre isso, e identifica alguns dos atos de Antíoco Epifânio:


"Pois o rei enviara cartas por mensageiros a Yerushalayim e às cidades de Yehudá para que seguissem as leis estrangeiras da terra. E proibiu ofertas queimadas, e sacrifício, e ofertas de libação, no Beit HaMikdash, e que eles profanassem os Shabatot e os dias festivos. E poluíssem o Santuário e o povo santo: E que erguessem altares, e postes ídolos, e capelas de ídolos e sacrificassem carne de porco, e feras imundas. E que deixassem seus filhos incircuncisos, e que tornassem suas almas abomináveis com toda sorte de imundícia e profanação, para que no fim pudessem esquecer a Torá, e mudar todas as ordenanças."  (Macabim Alef/1 Macabeus 1:44-49)

Nunca houve na história de Israel um dominador com tamanho ódio pelos preceitos da Torá, a ponto de querer destruí-la plenamente. Mesmo à época da dominação romana, o império permitia até certo ponto que a religião israelita fosse praticada, e os costumes fossem minimamente preservados.


Esse ódio peculiar de Antíoco Epifânio lhe rendera esse rótulo. Sha'ul  (Paulo) nos alerta, portanto, que o Iníquo que se levantará será semelhante a Antíoco, muito embora provavelmente irá muito além do este em sua crueldade.


Mas, será que temos algo semelhante sobre a abominação da desolação?


O primeiro indício do que é a "abominação da desolação" é algo que podemos extrair da Enciclopédia Judaica. Sobre ela, é dito:

"Tanto no hebraico bíblico quanto no rabínico 'abominação' é um termo familiar para um ídolo (1 Reis 11:5; 2 Reis 23:13; Sifra Kedoshim, começo, e Mekilta, Mishpatim 20, ed. Weiss, 107)."

De fato, vemos em Melachim Alef (1 Reis) 11:5:

"Porque Shlomo (Salomão) seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e Milcom, a abominação dos amonitas."

E ainda em Melachim Beit (2 Reis) 23:13:

"O rei profanou também os altos que estavam defronte de Jerusalém, à mão direita do monte de Masite, os quais edificara Shlomo (Salomão), rei de Israel, a Astarote, a abominação dos sidônios, e a Quemós, a abominação dos moabitas, e a Milcom, a abominação dos filhos de Amom."


Portanto, vemos que 'abominação' é um ídolo. A Enciclopédia Judaica, contudo, não esclarece a questão da "abominação da desolação" (até porque é uma preocupação muito mais da teologia neo-testamentária, face à ênfase dada por Yeshua.)


III – A Abominação da Desolação de Antíoco

Mas, se Antíoco Epifânio era "O Iníquo", e entendê-lo serve para tipificar o entendimento do "Iníquo" que virá, e se sabemos que Antíoco Epifânio profanou o Beit HaMikdash (Templo), fato esse narrado nos livros dos Macabim (Macabeus) e nas tradições envolvendo a festa de Chanuká, então será que esses mesmos livros podem nos fornecer alguma informação do que é especificamente a "abominação da desolação"?

A resposta é sim, e é o que veremos abaixo:

"No décimo-quinto dia do mês de Kislev, no ano cento e quarenta e cinco, eles colocaram a abominação da desolação sobre o altar, e construíram altares ao longo de todas as cidades de Yehudá, em todos os lados. E queimaram incenso às portas de suas casas, e nas ruas. E depois de despedaçarem os livros da Torá que encontraram, eles os queimaram com fogo. E quem quer que fosse encontrado com qualquer livro do testemunho, ou se alguém se comprometesse com a Torá, o decreto do rei era que fossem mortos." – (Macabim Alef/1 Macabeus 1:54-58)


Aqui vemos que de fato Antíoco Epifânio colocou uma "abominação da desolação" sobre o altar do Beit HaMikdash (Templo). Mas, afinal, o que era essa "abominação da desolação"?

A resposta pode ser encontrada em Macabim Beit (2 Macabeus), que explicita claramente qual era a divindade adorada por Antíoco Epifânio e que seria imposta à força sobre os judeus na época da dominação do império greco-sírio:

"E no dia do aniversário do rei, todos os meses, eles eram trazidos amargamente à força para comerem dos sacrifícios. E quando o jejum de Baco era observado, os judeus eram forçados a seguirem em procissão a Baco, carregando hera." (Macabim Beit/2 Macabeus 6:7)

Aqui vemos que Antíoco Epifânio era adorador de Baco. Mas quem é Baco?


IV – O deus da Desolação


Baco era uma divindade conhecida como Dionísio na mitologia grega. Era um mortal que "se elevou à categoria de deus" por ser filho de Zeus. Em sua obra "A Mitologia de Todas as Raças, vol. 1", William Sherwood Fox explica acerca de Dionísio:

"A palavra Dionísio é divisível em duas partes, a primeira originalmente Dios (ie. Zeus) enquanto a segunda é de significado desconhecido, embora talvez ligado ao nome do monte Nysa..."

Nysa é um monte que na literatura grega está associado à figura das ninfas. As ninfas eram essencialmente entidades femininas.


William Smith, no "Dicionário de Biografia e Mitologia Grega e Romana" diz que o culto a Dionísio era fortemente associado a bodes, touros, serpentes e à hera.


Uma escultura romana do primeiro século mostra Dionísio, renascido da coxa de Zeus, com sua mãe. O poste em forma de cruz simboliza a morte de Dionísio. Podemos ver claramente que o símbolo não se originou com os seguidores de Yeshua.

Sabemos que Roma usava três formas de crucificação. Uma delas, a crux simplex, era simplesmente uma estaca em forma vertical. Outro formato, a crux comissa, era em forma de "T". A terceira, chamada de crux imissa, era em forma da cruz cristã tradicional.

As Boas Novas afirmam que Yeshua carregou "o madeiro":

"E, quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Shimon (Simão), a quem constrangeram a levar o seu madeiro." (Matitiyahu/ Mateus 27:32)


Tanto a crux comissa quanto a crux imissa eram montadas a partir de duas peças, e o relato dá a entender que se trata de uma peça única. Não há nada que indique que Yeshua teria levado apenas parte do madeiro. Muito pelo contrário. E certamente ele não teria sequer suportado carregar uma crux comissa e uma crux imissa. Elas eram excessivamente pesadas e desajeitadas, além de serem compostas por duas peças.

De fato, isso bate melhor com o que diz o aramaico, que traz o termo "zekiypa". Esse termo vem da raíz do verbo "zekap", que significa literalmente "elevar" ou "erguer." Ou seja, a tradução mais literal é:


"Aquilo em que a pessoa era erguida" (para morrer). A tradução mais comum para "zekiypa" é "estaca."

Curiosamente, o professor Bart Ehrman, professor e catedrático do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte, e uma das maiores autoridades mundiais em teologia cristã, endossa a afirmação de Morton Smith em seu livro "Clemente de Alexandria e o Evangelho Secreto de Marcos", que afirma que:


"Clemente de Alexandria foi o primeiro autor cristão a se referir à cruz como 'um símbolo do Senhor.' Tendo vivido durante o final do primeiro século até cerca de 210 e 216, uma época em que o uso da cruz era raro no Cristianismo."


A Drª. Marienne Mehling, em seu comentário "Jerusalem and the Holy Land", ao falar da chamada "Via Dolorosa", afirma:


"Presume-se amplamente que o Cristo Cruficificado ficou em uma estaca (Latim: 'sedile'), cuja intenção era prolongar sua agonia. O fato de um dos que passavam colocar uma esponja cheia de vinagre em um cajado e objetivar dar a Jesus para beber (Mateus 27:48) sugere que seus pés estavam a cerca de uma jarda do chão."


Novamente, o relato não bate com a altura mais elevada da crux imissa, especialmente devido ao fato da mesma fazer com que a pessoa seja suspensa pelos braços (distanciando-a do chão).

Será que o culto a Dionísio teve alguma influência no uso posterior da cruz como símbolo do Cristianismo? Ou teria sido apenas uma coincidência dado o uso dos três tipos de "cruxes" romanas?

Mas, por enquanto, voltemos à época dos eventos da revolta dos Macabim (Macabeus), vemos que Antíoco Epifânio coloca um poste-ídolo de Dionísio no Beit HaMikdash (Templo) em provocação aos insurgentes:

"Ele estendeu sua mão direita em direção ao Beit HaMikdash e fez um juramento desta maneira: Se não me entregardes Yehudá como prisioneiro, eu tombarei este Beit HaMikdash de Elohim ao chão, e quebrarei o altar, e erguerei um templo notável a Baco." (Macabim Beit/2 Macabeus 14:28)


Mas, como era a imagem do poste-ídolo de Dionísio, ao qual os judeus foram forçados a fazer procissão, e que foi posto no altar?

A imagem traz o símbolo do crescente visível, que também tinha implicações de adoração para Antíoco Epifânio, e Dionísio (Baco) crucificado, em uma posição bastante familiar.

Essa é exatamente a "abominação da desolação" que foi colocada sobre o altar do Beit HaMikdash (Templo) à época da revolta dos Macabim (Macabeus): Uma imagem do filho de Dyeus/Zeus, que tipificava toda a rebeldia e transgressão, em afronta à Torá (Dionísio é conhecido na mitologia grega como um deus transgressor).

IV – Conclusão


Ainda sobre a "abominação da desolação", encontramos o seguinte em Guilyana (Apocalipse) 13:14-15:

"E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta."

Como sabemos de estudos anteriores, a besta montada sobre a grande meretriz, a Bavel (Babilônia), simbolizam o falso messias [anticristo] e o seu sistema religioso.


No fim dos tempos, os adoradores do Cristo romano forçarão os judeus a carregarem uma imagem do seu deus para dentro do Beit HaMikdash (Templo), para consagrarem-no [ao anticristo]. É bem provável que cheguem a afirmar que os próprios judeus e sejam a abominação, enquanto [os seguidores da besta] cumprem o propósito de HaSatan (Satanás) de enganar os moradores da terra.

Qual será a reação das pessoas ao verem a cruz "consagrada" sobre altar do Templo de Jerusalém?

Fiquemos atentos aos sinais, conforme Yeshua nos afirmou, pois Ele nos diz:

"Então, se alguém vos disser: Eis que o Mashiach está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; Porque surgirão falsos messias e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos." (Matitiyahu/ Mateus 24:23-24)

- O Rav. Shaul Bentsion é o principal líder espiritual do Judaísmo do Caminho, que crê em Yeshua (Jesus) como o verdadeiro Messias de Israel. Seus comentários são disponibilizados no site: http://forum.torahviva.org/index.php.


Obs.: As explicações entre colchetes foram acrescentadas pelo administrador do blog Aliança Renovada, para prover maior clareza ao sentido do texto aos que não estão familiarizados com o pensamento do autor deste artigo.

Um comentário:

Blog dos poemas disse...

Desculpem-me a pergunta: vocês são trinitarianos?
Grato.
Abr.
Marcos Avellar
marcosavellar1@gmail.com