terça-feira, 20 de julho de 2010

A POESIA SEMITA NO NOVO TESTAMENTO

O Rabino Sha'ul (Paulo de Tarso) e a Sabedoria


Por Sha’ul Bentsion

I - Introdução

Uma das coisas mais belas, e das maiores evidências da origem semita do Novo Testamento, são as estruturas poéticas das quais se utilizaram os escritores bíblicos. Muitas vezes, tais estruturas dão um colorido especial a uma passagem (como nos Salmos, por exemplo) e isto é frequentemente perdido no texto grego.

II – O texto em questão

Um bom exemplo disto é Romanos 12:8, que discute os dons numa congregação. Encontramos as seguintes traduções, provenientes do grego:

a. "se é dar ânimo, que assim o faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria”. (NVI).

b. “ o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria”. (Almeida RA).

Contudo, a Peshitta aramaica traz: "Oyait d’ ambayana huo b’ buoyaeh oad’ yaheb ba’ p’ ashiota oad’ kaem b’ risha b’ achp’ iuota od’ amrachem b’ aptsichuota”.

O mais interessante é que este verso traz o uso de pares de palavras que se complementam semanticamente, uma após a outra:

Par #1 – d’ ambayana, b’ buoyaeh (ambos podem significar ‘conforto’, mas o primeiro pode significar ‘exortação’ );

Par #2 – oad’ yaheb, ba’ p’ ashiota (a primeira significa ‘dar’, a segunda ‘ba’ p’ ashiota’ literalmente ‘em simplicidade’, neste contexto associada à humildade);

Par #3 – b’ risha, b’ achp’ iuota (a primeira expressão também pode significar ‘início’ , mostrando o trocadilho com a segunda expressão, que significa ‘perseverança’ );

Par #4 - od’ amrachem, b’ aptsichuota (a primeira significa ‘misericórdia/amor’ e a segunda, satisfação, alegria).

Trata-se de uma belíssima poesia semita! Detalhe interessantíssimo: Temos aqui 4 pares. O número 4 no Judaísmo é associado à sabedoria/conhecimento (existem 4 níveis de interpretação das Escrituras, 4 evangelhos, 4 cantos em que amarramos os tsitsiyot, etc.). Ou seja, Rav. Sha’ul (Paulo) nos dá uma verdadeira aula do que é a verdadeira sabedoria no tocante à forma como devemos nos relacionar em nossas congregações. Isto cai como uma luva com o versículo seguinte, em que Rav. Sha’ul (Paulo) demonstra, ao dizer que o amor não deve ser fingido, que o que dará vida a tal sabedoria é o amor.

Aqui, Rav. Sha’ul (Paulo) usa cuidadosamente cada expressão, dando-lhe um complemento posterior. É assim que podemos entender Ruhomayah/Romanos 12:8. Veja como ficaria uma tradução de tal estrutura poética: “Aquele que exorta, que possa ser para o conforto; o que dá, que seja com humildade; o que lidera, que seja com perseverança; o que usa de misericórdia, que seja com alegria”. (BCHT – versão 2.2 beta).

III - Conclusão

Parafraseando este ensinamento de Rav. Sha’ ul (Paulo): Não basta exortar, tem que ser exortação para o conforto. Não basta dar, se for sem humildade de nada vale. Não basta iniciar um trabalho de liderança, é preciso levá-lo até o fim. E não basta ser misericordioso (provavelmente aqui entra a questão da pena), tem que se usar de misericórdia com alegria.

Pra quem prefere o grego, é apenas um belo versículo com pequenas recomendações. Pra quem procura entendê-lo em seu contexto semita, a partir dos textos semitas, é uma verdadeira aula sobre como agir com sabedoria na congregação!

Mais uma verdadeira pérola do aramaico! Graças ao Eterno pelo privilégio da Sua Palavra.

Obs.: O Rabino Sha'ul Bentsion é o mentor do Grupo Torah Viva e líder do Judaísmo do Caminho, que crê ser Jesus (Yeshua) o Messias de Israel.

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