sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O DIA DAS TROMBETAS

A Cidade, os Sacerdotes e o Shofar
Uma Reflexão de Yom Teruá

Por Sha’ul Bentsion


I - Introdução

“E sucedeu que, tocando os cohanim (sacerdotes) pela sétima vez as shofarot (trombetas), disse Yahushua (Josué) ao povo: Gritai, porque YHWH vos tem dado a cidade. ” (Yahushua/Josué 6:16)

Creio que todos conheçam excepcionalmente bem a história da tomada da cidade de Yericho (Jericó). Para aqueles que não a conhecem ainda, peço que parem a leitura deste material por um breve momento e leiam o texto de Yahushua (Josué) capítulo 6.

A narrativa da destruição de Yericho (Jericó) serve como memorial profético da destruição do reino das trevas, representado por sua cidade, a grande Bavel (Babilônia).

Assim como Yericho, Bavel será totalmente destruída. Assim como Yericho, Bavel parece intransponível para os filhos de Israel. Muitos de nós nos encontramos como os filhos de Israel ao comando de Yahushua (Josué), completamente atemorizados em nosso pequenino número, diante da magnífica imponência de Yericho (ou, no nosso caso, Bavel.)

Assim como Yericho, Bavel contém nela uma meretriz, a Casa de Israel (o Reino do Norte):

“Não te alegres, ó Israel, não exultes, como os povos; porque ao prostituir-te abandonaste o teu Elohim; amaste a paga de meretriz sobre todas as eiras de trigo.” (Hoshea/Oséias 9:1)

Assim como aconteceu com Rahav (Raabe), que se arrependeu ao tomar contato com a Torá através dos emissários de Yahushua (Josué), assim também a Casa de Israel tomará contato com a Torá através dos emissários de Yeshua, e se arrependerá de seus pecados.

Mas quanto ao povo que já estava com Yahushua (Josué), este se perguntava como seria possível vencer aquele desafio, mas YHWH nos mostrou que a vitória veio por intermédio dEle. Da mesma forma hoje os seguidores de Yeshua se perguntam se estão prontos para tamanho desafio.

II – Yericho nos Dias de Hoje

Ora, se há paralelos importantíssimos entre Yericho e Bavel, então certamente que se analisarmos os elementos que nos levaram à vitória contra Yericho, poderemos encontrar importantes elementos que nos auxiliem em nossa vitória contra Bavel. Algumas coisas foram fundamentais para que a vitória ocorresse:

1) O povo circundou a cidade por sete vezes.

2) Os cohanim soaram o shofar.

3) O povo bradou, e os muros ruíram.

Não é difícil perceber que há um paralelo importante com o tema de Yom Teruá, visto que Yom Teruá é o Dia do Brado – numa referência que pode ser tanto para o brado do povo quanto para o soar do shofar.

Yom Teruá nos faz recordar, como memorial futuro, do dia do último soar da trombeta:

“Porque Aquele que é o Nosso Adon pelo mandamento e pela voz do arcanjo e pela trombeta de Elohim descerá dos céus e os que morreram estando no Mashiach se levantarão primeiro.” (Tessalonissayah Alef/1 Tessalonissences 4:16, do aramaico)

Ora, analisemos então os eventos de Yericho para procurarmos entender o que pode nos ensinar a respeito dos últimos dias:

III - O Circundar a Cidade

Há dois elementos-chave na questão do circundar a cidade. O primeiro deles está no fato de que o povo rodeou a cidade por 7 vezes.

O número 7 na Bíblia representa um período completo. O relato da criação em Bereshit (Gênesis) 1 é composto, por exemplo, de 7 dias. Os períodos de Dani’el são medidos em semanas de 7 anos, e assim por diante.

Repare que até os últimos passos da última volta, o povo não tinha nenhum sinal físico de que viria a vitória. Talvez algumas pessoas já estivessem desistindo de caminhar, outras já estivessem se perguntando se Elohim as abandonara. Mas, até que a última volta se concluísse, nada ocorreu.

É preciso entendermos que Bavel só ruirá nos acontecimentos finais que se situam em torno da volta de Yeshua HaMashiach. Nem antes, nem depois. Se não sabemos nem o dia, nem a hora em que Yeshua retornará, também não podemos saber em que momento Bavel ruirá.

Há pessoas que anseiam por ver Bavel começar a ruir, demonstrar rachaduras em suas muralhas, e dar sinais de decadência. Contudo, não é assim:

“E os reis da terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delícias, a chorarão, e sobre ela prantearão, quando virem a fumaça do seu incêndio; Estando de longe pelo temor do seu tormento, dizendo: Ai! ai daquela grande Bavel, aquela forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo.” (Guilyana/Apocalips e 18:9-10)

Yeshua não nos diz por acaso que aquele que perseverar até o fim será salvo. Pois Bavel, assim como Yericho, se mostrará imponente e forte até a última hora que antecede sua destruição. Temos que ter ciência disso, e fé nEle, para não desanimarmos antes da última volta.

O outro elemento-chave da questão do circundar a cidade está no fato de que o povo se aproximou, mas não adentrou Yericho. É uma linha bastante tênue, pois o povo ficou exatamente no perímetro da cidade. A voz do povo pôde ser ouvida dentro da cidade. O povo pôde enviar resgate a Rahav, mas não adentrou efetivamente Bavel.

Hoje em dia, ainda há quem deseje cair nos dois extremos: Alguns não desejam sair de Bavel, acreditando poder salvá-la. A Bíblia é clara quanto a isso:

“Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da ira de YHWH.” (Yirmiyahu/Jeremias 51:45)

Porém, o povo teve que se posicionar de modo a que o shofar pudesse ser ouvido dentro de Yericho. Da mesma forma, muitos de nós temos caído no gravíssimo erro de colocarmos o shofar nos ombros, e debandarmos em retirada, sendo responsáveis por deixar em Bavel aqueles que ainda não ouviram o shofar.

Refiro-me aqui ao isolacionismo, ao orgulho espiritual, e à falta de compaixão por aqueles que ainda estão presos pelo sistema de Bavel. É preciso que não deixemos de nos lembrar da lição de Yonah:

“E veio a palavra de YHWH a Yonah Ben Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Yonah se levantou para fugir da presença de YHWH para Tarshish.” (Yonah/Jonas 1:1-3)

Existem, hoje, muitos Yonahs em nosso meio, no sentido de que não entendemos que YHWH quer exercer misericórdia para com Rahav (Raabe), isto é, para com a Casa de Israel que ainda se encontra presa em meio a Bavel. Alguns entendem na prática, mas na teoria agem de forma oposta.

Muitos de nós, por termos visto as abominações de Bavel, achamos que são os que estão em Bavel dignos do castigo que lhes incorrerá. Assim como Yonah, ao final do seu livro, se ira contra YHWH por tê-los perdoado. Outros de nós achamos que se as pessoas já ouviram a Palavra da Torá, então seu sangue está sobre suas cabeças. Mas, na realidade, sete voltas são dadas ao entorno de Yericho, e durante essas sete voltas, o shofar soará por diversas vezes. O shofar não pode cansar, nem pode cessar.

Por um lado, não podemos entrar em Bavel. Isto é, não devemos partilhar de seus pecados sob o pretexto de atacarmos por dentro. Por outro, isso não significa que devemos fugir e ficar à distância aguardando isolados. YHWH prometeu enviar pescadores e caçadores para resgatar a Casa de Israel:

“Eis que mandarei muitos pescadores, diz YHWH, os quais os pescarão; e depois enviarei muitos caçadores, os quais os caçarão de sobre todo o monte, e de sobre todo o outeiro, e até das fendas das rochas.” (Yirmiyahu/Jeremias 16:16)

Como poderemos nos dizer servos dEle e ignorarmos a missão que Ele tem para nós? É hora do nosso shofar ecoar pelos confins da terra, e o seu som se fará ouvir dentro dos portões infernais de Bavel, para resgate do nosso povo.

IV - Os Cohanim (Sacerdotes)

"O papel dos sacerdotes é ensinar a Torá e servir no Templo Sagrado em Jerusalém, conforme as Escrituras afirmam: 'Eles ensinaram Tuas Leis à semente de Ya'akov, e a Tua Torá a Israel. [Dt. 33:10]" Prof. Nahum Rakover

Não existe melhor definição para os cohanim (sacerdotes). Um cohen tinha essencialmente duas funções: representar o povo perante YHWH e ensinar a Sua Torá a Israel. Lembremos o que nos diz Kefa (Pedro):

“Vós, porém, sois a geração escolhida para o sacerdócio do Reino, povo santo ajuntado e resgatado para anunciar a majestade dAquele que vos chamou das trevas para a luz abundante.” (Kefa Alef/1 Pedro 2:9)

Yeshua não retornará sem que antes seus cohanim (sacerdotes) vão adiante dEle, cumprindo sua missão e soando o shofar. Infelizmente, praticamente não temos pessoas no nosso meio que se disponham a cumprir a profecia supracitada. Por que digo isso? Analisemos aqui os requisitos de um cohen (sacerdote):

a. Ensinar a Torá ao povo: O povo era leigo, inculto, recém saído da escravidão do Egito, idólatra, sem qualquer apego à Palavra. Mesmo assim, YHWH levantou pessoas instruídas e dotadas de longanimidade para ensinar o povo. Um cohen (sacerdote) não se ira com a falta de conhecimento da Torá. Um cohen ensina de forma paciente e amorosa.

b. Um cohen (sacerdote) representava o povo perante YHWH, justamente no momento em que o povo falhava, tropeçava, e abandonava a Torá. O Cohen (sacerdote) clamava a Elohim que perdoasse os trôpegos, e que exercesse sua misericórdia. O cohen se permitia ser um vaso para o derramar da misericórdia de Elohim. Temos mesmo orado pelos trôpegos, pelos que ainda estão presos à anomia, pedindo misericórdia a Elohim pela Casa de Israel?

Há muitos intelectuais da Torá e juízes em nosso meio. Mas até quando YHWH esperará por cohanim (sacerdotes) ?

V - O Shofar e o Brado (o Alto Clamor)

O Shofar e o Brado são muito semelhantes, e não é à toa que aparecem juntos na temática de Yom Teruá. O shofar pode ser entendido da se-guinte forma:

"Há coisas que são importantes para nós, então falamos sobre elas. Há coisas que são tão importantes para nós que as palavras fluem em uma explosão de emoção, palavras ricas, expressivas e vibrantes. E há coisas que nos sacodem até o fundo. Coisas que não se importam com a permissão da mente para as palavras certas - pois a mente não as pode compreender; as palavras mais pungentes não poderiam contê-las. Coisas que só podem nos fazer explodir em um clamor, em um grito, e então em silêncio. Este é o som do shofar: O mais íntimo de nossas almas gritando: 'Pai! Pai!'" Rav. Tzvi Freeman

O shofar é como o gemido inexprimível (Rm. 8:28) da Ruach HaKodesh, clamando a YHWH pela Casa de Israel e pela Casa de Yehudá. Temos uma missão importante, que é conscientizar a Casa de Israel que ela precisa clamar por YHWH. Como podemos fazer isso? Ben Ish Chai (Rav. Yosef Chaim, rabino chefe sefaradi no fim do século XIX) narra uma parábola que talvez nos ajude a compreender o que devemos fazer:

“Havia, em um reino, um mestre na Torá que encontrou favor aos olhos do rei. De fato, ele era tão cheio de sabedoria e conselhos maravilhosos que o rei o nomeou como seu número dois. Sob a brilhante liderança do sábio, a nação se tornou o reino mais rico e poderoso da região. Ele era amado por todos os cidadãos do país.

Todavia, havia um alfaiate não-judeu que queimava de inveja do prestígio do rabino. Um dia, o rei e o sábio viajavam pelo mercado na carruagem real. Quando passaram pela janela do alfaiate, ele deixou sair uma canção rude que depreciava os judeus. O rei ficou furioso: "Como ousa esse homem insultar meu amado amigo!" O rei então se voltou para o rabino e disse: "Dê ordens para que a língua desse homem seja cortada de sua boca." Inexplicavelmente, ao invés de executar as ordens do rei, o sábio foi até a casa do alfaiate e lhe deu um presente de 2 mil denários.

Na semana seguinte o rei e o rabino passaram pela casa do alfaiate. A carruagem real se aproximou, e o alfaiate os cumprimentou com uma canção simpática - que exaltava os judeus e o rabino. O rei ficou perturbado: "Não te disse para ordenar que a língua dele fosse cortada?" "Sua majestade", disse o rabino ao rei, "Eu fiz conforme tu ordenaste. Eu removi sua língua antiga ruim e a substituí por uma nova que canta louvores e canções doces."

O rei riu com deleite da esperteza de seu ministro. "Mesmo assim", disse o rei, "Eu teria preferido que você tivesse executado minha ordem."

O rabino respondeu: "Eu agi em proteção à tua honra. Pois se tivesse ordenado que sua língua fosse cortada, o povo diria: "Tudo o que o alfaiate dizia sobre os judeus é verdade. O rei só o puniu para defender a honra do seu amigo." Contudo, agora que eu dei a ele um belo presente, ele exalta os judeus. Quando o povo ouvir as suas novas palavras perceberá que sua primeira canção era apenas difamação."

Yeshua nos ensinou a semearmos o bem, o amor ao próximo, e o temor a Elohim em obediência à Torá. Para despertar nas pessoas o desejo de clamarem por Elohim, é preciso antes substituir suas línguas. A única forma de fazermos isso é deixarmos que o bem que se manifestará através de nossos atos de amor e misericórdia contaminem o coração de todos os que ainda estão em Bavel.

Nossa língua, em sendo acusatória, agressiva, e se recusando a ser doce, amável, e dedicada a Elohim, jamais despertará em qualquer pessoa o desejo de tomar para si o nosso tesouro. De nada adianta, por exemplo, ganharmos um argumento teológico, por mais bem fundamentado que estejamos, se nossa língua for dura. Fazer isto é como arrancar a língua do alfaiate na parábola acima.

Todavia, devemos estar dispostos a compartilhar o nosso maior tesouro: a luz que brilha nAquele que aceita a Yeshua como seu Go’el (Redentor) e Adon (Senhor), e que, por isto, vive na Torá o mais profundo amor a Elohim. Temos que confiar mais na preciosidade da Torá do que na nossa capacidade argumentativa. Viva a Torá em seus atos e em suas palavras, e seu shofar será capaz de despertar o brado que a Casa de Israel precisa dar para que Elohim a livre das garras de Bavel.