A NOVA DOTAÇÃO DO ESPÍRITO – O SELAMENTO E O 2º ADVENTO
Por César Rien
A promessa da Nova Aliança está fundamentada na promessa de ajuda especial da parte de Deus, para dotar o crente da capacidade de obedecer e praticar voluntariamente os mandamentos e estatutos do Criador que estão registrados na Torá. E essa ajuda depende da vontade humana em recebê-la. Cabe ao crente, então, pedir e aceitar essa ajuda. Juntamente com a promessa de uma nova chance para o homem, através da Nova Aliança, Deus oferece a ajuda especial do Espírito Santo, como podemos ler nas palavras do profeta Ezequiel:
“E porei dentro de vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos, e guardeis os Meus juízos, e os observeis... e vós me sereis por povo, e Eu vos serei por Deus.” – Eze. 36:27-28. 1
Não há, no Evangelho, permissão ou desculpa para a desobediência. O pacto da Nova Aliança (Aliança Renovada) faz uma provisão de poder espiritual, diante da impossibilidade do homem guardar os justos mandamentos e estatutos do Altíssimo. Por consequência, o Apocalipse deve mostrar Cristo fazendo a ministração do Espírito, já que esse livro mostra o ministério do Sumo-sacerdote para efetuar a consumação da Aliança Renovada. O Apocalipse faz a demonstração da dotação do Espírito, e essa demonstração é descrita de forma simbólica. Todos esperam que o Apocalipse mostre uma cena semelhante à ocorrida no Dia de Pentecostes, porém, essa foi a inauguração da dotação espiritual. Como o Apocalipse trata da consumação de todas as coisas, a dotação do Espírito, nesse livro, é demonstrada de forma diferente daquela do livro de Atos.
Em Apocalipse 7, versos 2 e 3, João vê um anjo ocupado com uma tarefa urgente e importante. Ele está pedindo a outros 4 anjos que segurem os ventos da terra, até que ele complete a obra de selamento. Os ventos são os conflitos e as guerras, a violência dos seres humanos e das nações contra outras nações. Esse selamento parece ser tão essencial para o Plano da Redenção que requer o cessamento da sanha assassina do inimigo de Cristo e dos agentes do mal. Para entender a obra do selamento, precisamos voltar séculos antes de Cristo e ouvir a mensagem do Profeta Zacarias:
"Pedi ao Senhor chuva, no tempo da chuva serôdia..." - Zac. 10:1. 2
“Se a família dos egípcios não subir, nem vier, não cairá sobre eles a chuva, virá a praga com que o Senhor ferirá as nações que não subirem a celebrar a festa dos tabernáculos.” – Zac. 14:18. 3
A chuva de Zac. 14:18, com certeza, é a chuva do capítulo 10:1. Do que consiste essa chuva serôdia? O desvendamento desse mistério passa necessariamente pela revelação dada por Deus ao Profeta Joel. Pela leitura de Joel 2:23, 28 e 29 percebemos que o Senhor está falando do derramamento do Espírito Santo. A primeira parte da promessa de Joel, a Chuva Temporã, cumpriu-se no Pentecostes, como se pode ler em Atos 2:1 e 2, e 16 a 18. Já estudamos, anteriormente, que Joel recebeu a revelação sobre a ocasião na qual deveria cumprir-se essa promessa (2:24). Resta o cumprimento da Chuva Serôdia, que está no mesmo contexto da Chuva Temporã, mas que será cumprida em uma época diferente. O motivo deve-se à finalidade das chuvas. Enquanto a Temporã era derramada sobre a semente recém-plantada, para fazê-la germinar, a Serôdia era derramada sobre o trigo logo antes da ceifa, para fazer granar a espiga e para amadurecer a seara.
Jesus utilizou-se dos símbolos do ciclo agrícola, para ilustrar a Obra do Evangelho (Mat. 13:39-40). O que há de maravilhoso em Joel é que, assim como havia sido revelada a época do ano para a Chuva Temporã espiritual, também é revelada, no verso 24, através de símbolos da colheita do outono, qual é a época do ano na qual será derramada a Chuva Serôdia. A conclusão é feita por analogia. Se a Chuva Temporã estava ligada às eiras cheias de trigo, e foi concedida no Pentecostes, que é a festa instituída para celebrar a colheita do trigo, então o fato da ligação teológica da Chuva Serôdia com os lagares, e o vinho e o óleo deve significar que a concessão da Última Plenitude do Espírito ocorrerá durante a Festa dos Tabernáculos, porque essa é a festa instituída por Deus para celebrar a última colheita do ano agrícola, que é a colheita dos frutos da terra (Êxo. 23:19; Lev. 23:39-40).
Desta forma, já conseguimos entender por que o Profeta Zacarias adverte as nações sobre a necessidade de reunirem-se durante a Festa dos Tabernáculos, para adorar a Deus, pois, as nações que assim não procederem não receberão a chuva, mas receberão a praga que o Senhor enviará sobre as nações que não prestarem culto de adoração a Ele durante a Festa dos Tabernáculos. Mais uma vez, verificamos uma mensagem de alerta profético sobre a necessidade de todos os povos e nações cumprirem a ordenança de Deu. 31:10 e 12. Desta vez, a mensagem está bastante clara e conseguimos perceber que há um forte motivo para essa advertência profética ser levada para as nações. As nações são fortemente avisadas que, se não celebrarem a Festa dos Tabernáculos, não receberão a Chuva Serôdia, mas receberão as pragas. Isso nos remete imediatamente de volta ao Apocalipse. Leiamos as advertências:
“... e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer cousa verde, nem a árvore alguma, e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre as suas frontes.” – Apo. 9:4. 4
“Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas.” – Apo. 16:2. 5
Aqui, fica muito claro que não ter o selo do Deus Vivo sujeita os homens a receberem a marca da besta, e que esses homens receberão sobre si as 7 pragas. Eis, então, o motivo urgente da mensagem de Zacarias. Como Zacarias fala sobre a necessidade do cumprimento da ordenança de Deu. 31:10, para celebrar a Salvação na Festa dos Tabernáculos, e, como o Apocalipse nos mostra essa ordenança sendo cumprida muitos séculos após o Calvário, isso prova a existência de uma forte ligação teológica entre os dois fatos revelados pelo Senhor. Mas, ainda necessitamos entender qual é a relação que há entre o selamento de Apocalipse 7 com a Chuva Serôdia prometida por Joel, não é mesmo? Se o selamento e a Chuva Serôdia são tão importantes para a finalização da Obra do Evangelho, certamente Jesus não nos deixará sem compreender o significado desses símbolos! A pergunta certa a fazer, agora, é: para quê serve o selamento? A resposta nos será dada pelo Apóstolo dos Gentios:
“E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o Dia da [Salvação].” – Efé. 4:30. 6
No texto acima, substituímos, intencionalmente, a palavra Redenção por seu sinônimo 'Salvação'. O motivo disso é que o texto por nós usado, de Apo. 7:9 a 11, contempla a palavra Salvação, na tradução da Bíblia de Jerusalém. Alguns poderão pensar que estamos sendo muito repetitivos. Porém, há um sábio ditado popular que diz: "A repetição é a mãe do aprendizado".
Passamos mais de 30 anos nos bancos do templo, ouvindo serem repetidos os sermões, e nunca ninguém nos esclareceu que Jesus revela de forma implícita, no Apocalipse, a necessidade de ser cumprida também a ordenança de Lev. 23:41. Inferimos isso porque o selamento de Apo. 7:2-3 tem ligação teológica com Zac. 14:16, que afirma que as nações devem celebrar a Festa de ano em ano. Portanto, pedimos ao leitor que tenha paciência, pois nosso esforço é no sentido de deixar tudo tão claro que ninguém seja enganado. Como dizíamos no início do parágrafo, o uso da palavra Salvação em Deu. 31:10 e Apo. 7:9 a 11 é necessário para servir de demonstração e prova do cumprimento daquela ordenança da Torá.
Também se fez necessário o uso dessa palavra em Efé. 4:30, para que possamos compreender o quadro completo da Revelação dada a nós através das Santas Escrituras. Com o texto de Efésios, conseguimos compreender que o selamento dos salvos é feito com o Espírito Santo. Conseguimos entender, também, que necessitamos ser selados para o Dia da Salvação. Assim, se alguém quer ser salvo deverá ser selado com o Espírito Santo.
O texto de Paulo nos dá a entender que o selamento já estava ocorrendo em seus dias. Podemos concluir, então, que a Chuva Temporã foi o início da obra de selamento dos que serão salvos. Em Apo. 7:2 e 3, o anjo está preocupado em terminar de "selar em suas frontes os servos do nosso Deus". Podemos concluir disso que a Chuva Serôdia é a finalização da obra de selamento dos salvos que vivem no Final dos Tempos. Para provar que eles estão vivendo no final dos tempos, o Apocalipse afirma:
"Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram suas vestes, e as branquearam no sangue do Cordeiro". – Apo. 7:14. 7
Essa afirmação garante que os salvos, nos últimos dias, serão Justificados pela Fé. E, é claro, serão selados pelo Espírito da promessa (Efé. 1:13). Conclui-se, portanto, que a Chuva Serôdia é o selamento dos salvos que vivem nos últimos dias da história deste mundo de pecado. O Dia da Redenção, para o qual devemos ser selados, e que está demonstrado em Apo. 7:9 e 10, é a Festa dos Tabernáculos. Outra conclusão importante surge da revelação de Zacarias, onde fica bem claro que para receber a Chuva Serôdia necessitamos celebrar a Festa dos Tabernáculos, antes do 2º Advento de Jesus. Podemos concluir que o selamento iniciará durante a celebração da Festa dos Tabernáculos.
Esses dois cumprimentos de uma festa tipológica significa que existe um cumprimento progressivo do significado profético. Ou seja, a Festa dos Tabernáculos terá primeiro seu cumprimento eclesiológico na Chuva Serôdia, para o selamento dos crentes e para prepará-los para o Dia da Redenção. De que forma? Ele evitará que eles recebam a marca da besta. Esse assinalamento é feito à semelhança da experiência do Êxodo, pois o sinal do sangue do cordeiro pascal nas portas protegeu os israelitas contra a 10ª praga. Assim, também, o selamento protegerá contra as 7 últimas pragas. Desta vez o efeito do sangue é aplicado no ser humano, daí ser dito que “lavaram e alvejaram suas vestes [o caráter] no sangue do Cordeiro” (Apo. 7:14). Eis o Êxodo escatológico final do povo de Deus, logo após a grande tribulação. Portanto, o selamento é condição prévia para a REDENÇÃO (Efé. 4: 30). No final da grande tribulação, após a última praga, ocorrerá a REDENÇÃO de judeus e gentios (Apo. 7:4 e 9). Então, a Festa dos Tabernáculos terá seu cumprimento apocalíptico com a vinda de Jesus, com todos os anjos, para a colheita final e para levar os fiéis para o Seu 'celeiro', como afirmam João e Lucas:
“Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da Terra já amadureceu!
“E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada.” – Apo.. 14:14-16. 8
“A sua pá, ele a tem na mão, para limpar completamente a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro, porém queimará a palha em fogo inextinguível.” – Luc. 3:17. 9
Todas as evidências bíblicas que estudamos nos levam às conclusões que estamos expondo. Tudo o que fizemos foi nos livrar das idéias preconcebidas e, com isso, conseguimos quebrar os caquéticos paradigmas teológicos, que nos impedem de avançar no conhecimento da Revelação. Para quem prefere apegar-se às idéias emboloradas, para desculpar a consciência pelo fato de não desejar seguir adiante nesse conhecimento, existe o seguinte esclarecimento bíblico:
"As cousas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém, as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta Torá." - Deu. 29:28. 10
E, ainda:
"A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir.
"Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de leite, e não de alimento sólido." - Heb. 5:11 e 12. 11
Estamos vivenciando uma nova Experiência do Êxodo. Portanto, estamos sujeitos a cometer o mesmo erro cometido pelos hebreus:
“E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes?
“Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade.” (Heb. 3:17-19). 12
Quem quer participar da Glória, com Cristo, deve aceitar todas as revelações feitas pelo Jesus Glorificado (Apo. 1:1 a 3; 22:6, 7). Para quem pensa em omitir da mensagem do Evangelho a revelação sobre o cumprimento da ordenança dada em Deu. 31:10, é feita uma advertência. Vamos ler a advertência feita por Cristo em Apo. 22:19 (compare com Deu. 4:2):
"E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro." 13
O Evangelho de Cristo respeita a Torá, e o Apocalipse mantém a validade continuada da Torá. Omitir uma parte da mensagem do Evangelho equivale a desfigurá-lo. Essa omissão constrói um outro evangelho (Gál. 1:8-9), um falso evangelho, que não é o Evangelho Eterno. E que não é o Evangelho de Cristo, portanto (2ª Cor. 11:4).
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1. A Bíblia Sagrada, Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Corrigida no Brasil com Referências e Algumas Variantes, Sociedade Bíblica do Brasil, 1969, Rio de Janeiro – RJ.
2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13. A Bíblia Sagrada, Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Atualizada no Brasil, Sociedade Bíblica do Brasil, 1969, Rio de Janeiro – RJ.