quarta-feira, 13 de julho de 2011

PAULO NÃO ESCREVEU AOS CRISTÃOS DA GALÁCIA

AMPLIANDO A VISÃO SOBRE GÁLATAS

O grande desafio na compreensão da Epístola aos Gálatas está relacionado a algumas dificuldades de interpretação, pelas seguintes razões:

1 – O entendimento equivocado de que a carta tenha sido escrita aos “cristãos da Galácia”

Mas, se não foi para os Gálatas, para quem, então, escreveu Paulo?

O aramaico nos responde ao apresentar o termo “Galutyah”, que é uma referência à expressão “galut”, que no hebraico significa “dispersão”. A “Galutyah” seria a “dispersão de Yah”, isto é, aqueles que foram dispersos pelo Eterno, ou seja, israelitas que, por sua infidelidade à Aliança com Adonai, haviam sido espalhados entre as nações, conforme profetizado na Torá.

Isso é evidenciado ainda mais pela expressão “achay d’aimi” que o grego traduz incorretamente como “irmãos que estão comigo”. Ora, se os irmãos estivessem com Sha’ul (Paulo), para que ele escreveria uma carta? Na realidade, “achay d’aimi” significa: “irmãos do meu povo”, indicando para quem Sha’ul (Paulo) destinava sua carta.

2 – O segundo problema está na questão da tradução do termo “aivda d’namusa”, que é equivalente ao hebraico “ma’asseh haTorah”, normalmente traduzido como “obras da lei”.

Na realidade, “ma’asseh haTorah” é uma expressão usada para se referir, na literatura judaica, a atos de importantes rabinos que foram transformados em preceitos. A premissa era que se um grande “tsadik” (justo) realizava tal prática, então tal prática era capaz de tornar uma pessoa mais justa.

Portanto, o entendimento mais correto do termo “ma’asseh haTorah” é “preceitos rabínicos”. De fato, a palavra “ma’asseh” aparece também na literatura judaica dos essênios, sendo traduzida como “ensinamentos” ou “preceitos”. Portanto, optamos pela expressão “preceitos rabínicos” como sendo a tradução mais coerente para a expressão “aivda d’namusa”.

3 – O terceiro problema está no fato de que no aramaico não havia palavra que descrevesse o fenômeno do “legalismo” (e no grego também não havia).

Porém, a própria descrição de Sha’ul (Paulo) dos “ma’asseh haTorah” mostra que o legalismo é a questão latente; e Yeshua (Jesus) já havia falado da questão dos “ma’assim” como tradições que invalidavam a Torá. O legalismo é descrito por meio do uso da mesma palavra “namusa” associada a outras expressões de conotação negativa, indicando uma espécie de “peso” ou “jugo”.

Como a própria Torá afirma que ela mesma é suave e não difícil (veja Dt. 30:11-14), e tendo em vista que muitas das práticas descritas não estão na Torá, como, por exemplo, a idéia de Kefah (Pedro) de “se separar dos não-judeus”, associada à questão do “ma’asseh haTorah”, não é difícil perceber que essas expressões negativas se referem a um “jugo do legalismo” e não à obediência aos preceitos da Torá.

Um desses termos é “techeit namusa”, ou “debaixo da lei”, que é descrito como diametralmente oposto ao "estar na Graça”. O problema é que se essa lei fosse a Torá, a Graça não poderia existir no Tanach (Antigo Testamento), enquanto na realidade a Graça é citada centenas de vezes no Tanach. O termo, portanto, refere-se a um jugo rabínico de natureza semelhante aos preceitos rabínicos supracitados. Optamos, portanto, por traduzir “techeit namusa” como “sob o jugo rabínico”.

Podemos, aqui, considerar que os preceitos rabínicos acrescentados à Torá se constituíam no “jugo pesado” que os rabinos colocavam sobre seus “talmidim” (discípulos). Daí o haver Yeshua (Jesus) afirmado que Seu “jugo” é suave, porque Ele era Rabi e também tinha discípulos (Matitiyahu/Mateus 11:30). O jugo de Yeshua é o jugo suave da Torá (Dt. 30:11-14).

Utilizamos o termo “legalismo” em 4 situações nestes 3 primeiros capítulos, onde o contexto evidencia. As duas primeiras nos versos 1:11 e 12, pois o versículo imediatamente acima (verso 1:10) fala do caso do “techeit namusa”. Portanto, fica evidente que aqui Sha’ul (Paulo) fala contextualmente do legalismo. O terceiro caso é o do verso 3:21, onde ele afirma que a “justiça vem da fé”, e não de “namusa”. Ora, aqui ele faz uma referência implícita de “techeit namusa”, pois estamos falando daquilo que é diametralmente oposto à Graça. Portanto, não se trata de uma menção à Torá. O quarto caso é o do verso 3:24, por dois motivos. O primeiro é o uso da expressão “preso a namusa”. Ora, a Torá não prende ninguém, muito pelo contrário, a verdadeira Torá de Elohim liberta. Portanto, o contexto aqui é o do legalismo rabínico. Se observarmos a questão da repreensão de Sha’ul a Kefah e aos da “galut”, logo ao final do capítulo 2, então fica evidente, aqui, que Paulo (Sha’ul) está falando contra o legalismo rabínico. Além disso, há outro indício, pois o aramaico traz no verso 3:25 a expressão “tutores” ao invés de “tutor” (que só aparece no grego), indicando que Sha’ul se referia aos rabinos fariseus e não contra a Torá. O contexto está em harmonia com Atos 15:21, onde Ya’akov (Tiago) instrui os não-judeus a irem às sinagogas para aprender sobre Mosheh (Moisés). Onde as Escrituras podiam ser estudadas naquela época? Nas sinagogas farisaicas, é claro! Porém, uma vez que o aprendizado das Escrituras desse respaldo à fé, então já não estariam mais “debaixo de tutores rabínicos”.

4 – O quarto problema é a evidente tendência antinomista (nomos = torá) e antissemita (ou anti-judaica) das traduções desta epístola, que acentuam o entendimento equivocado de que Sha’ul (Paulo) teria pregado contra a Torá e, portanto, estaria em franca oposição ao que disse o Mashiach Yeshua (Messias Jesus), quando afirmou que não tinha vindo para abolir a Torá (Matitiyahu/Mateus 5:17-18). Além, é claro, de entrar em contradição com as afirmações do próprio Sha’ul (Paulo) quando afirma ser um fiel cumpridor dos preceitos da Torá (Atos 24: 14-16; Atos 20:16; Atos 22:3; Atos 23:6; Romanos 3:31).

Concluindo, podemos afirmar que há muitas evidências na Epístola aos Gálatas que dão total respaldo a nossa interpretação de que Sha’ul (Paulo) não escreveu a carta para os gentios da Galácia, que não dominavam o conhecimento da Torá, e, sim, para os judeus da dispersão (Galutyah), que criam em Yeshua e compreendiam o que ele estava ensinando.

Fonte: www.torahviva.org