sexta-feira, 2 de março de 2012

FUTURO DO UNIVERSO PODE ESTAR INFLUENCIANDO O PRESENTE

Por Julie Rehmeyer - FQXi 


Quando se pensa o Universo a partir das leis da mecânica quântica começam a fazer sentido algumas ideias aparentemente inconcebíveis.[Imagem: Anne Goodsell/Tommi Hakala]

Influências do futuro sobre o passado

Uma reformulação radical da mecânica quântica sugere que o Universo tem um destino definido, e que esse destino já traçado volta no tempo para influenciar o passado, ou o presente.
É uma afirmação alucinante, mas alguns cosmólogos já acreditam que uma reformulação radical da mecânica quântica, na qual o futuro pode afetar o passado, poderia resolver alguns dos maiores mistérios do universo, incluindo a forma como a vida surgiu.
E, além da origem da vida, poderia ainda explicar a fonte da energia escura e resolver outros enigmas cósmicos.
O que é mais impressionante é que os pesquisadores afirmam que recentes experimentos de laboratório confirmam de forma dramática os conceitos que servem de base para esta reformulação.
Recentemente, cientistas descobriram uma conexão surpreendente entre fenômenos quânticos. [Imagem: Adaptado de Chanchicto/Wikimedia]

Ordem oculta na incerteza

O cosmólogo Paul Davies, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, está iniciando um projeto para investigar que influência o futuro pode estar tendo no presente, com a ajuda do Instituto FQXi, uma entidade sem fins lucrativos cuja proposta é discutir as questões fundamentais da física e do Universo.

É um projeto que vem sendo acalentado há mais de 30 anos, desde que Davies ouviu falar pela primeira vez das tentativas do físico Yakir Aharonov para chegar à raiz de alguns dos paradoxos da mecânica quântica.
Um desses paradoxos é o aparente indeterminismo da teoria: você não pode prever com precisão o resultado de experimentos com uma partícula quântica; execute exatamente o mesmo experimento em duas partículas idênticas e você vai obter dois resultados diferentes.
Enquanto a maioria dos físicos que se confrontaram com esse problema concluíram que a realidade é, fundamentalmente, profundamente aleatória, Aharonov argumenta que há uma ordem oculta dentro da incerteza. Mas, para entender sua origem, é necessário um salto de imaginação que nos leva além da nossa visão tradicional de tempo e causalidade.
Em sua reinterpretação radical da mecânica quântica, Aharonov argumenta que duas partículas aparentemente idênticas comportam-se de maneiras diferentes sob as mesmas condições porque elas são fundamentalmente diferentes. Nós apenas não detectamos esta diferença no presente porque ela só pode ser revelada por experiências realizadas no futuro.
"É uma ideia muito, muito profunda", diz Davies.
A flecha quântica do tempo aparentemente perde o rumo no mundo quântico. [Imagem: iStockphoto/danesteffes/PRF]

Consequências presentes do futuro

A abordagem de Aharonov sobre a mecânica quântica pode explicar todos os resultados normais que as interpretações convencionais também conseguem, mas tem a vantagem adicional de explicar também o aparente indeterminismo da natureza.
Além do mais, uma teoria na qual o futuro pode influenciar o passado pode ter repercussões enormes e muito necessárias para a nossa compreensão do universo, diz Davies.
Os cosmólogos que estudam as condições do início do universo ficam intrigados sobre o porquê do cosmos parecer tão idealmente talhado para a vida.
Mas há também outros mistérios: Por que é que a expansão do universo está se acelerando? Qual é a origem dos campos magnéticos visto nas galáxias? E por que alguns raios cósmicos parecem ter energias impossivelmente altas?
Estas questões não podem ser respondidas apenas olhando para as condições passadas do universo.
Mas talvez, pondera Davies, se o cosmos já tem definidas algumas condições finais nele próprio - um destino -, então isto, combinado com a influência das condições iniciais estabelecidas no início do universo, pode perfeitamente explicar estes enigmas cósmicos.
Aharonov já teve ideias menos extravagantes, como a aplicação da nanotecnologia à água. [Imagem: Katsir et al.]

Testando a flecha do tempo

É uma ideia muito boa - embora extremamente estranha.
Mas haveria alguma maneira de verificar a sua viabilidade? Dado que ela invoca um futuro ao qual ainda não temos acesso como causa parcial do presente, isto parece ser uma tarefa impossível.
No entanto, testes de laboratório engenhosamente inventados recentemente colocaram o futuro em teste e descobriram que ele poderia realmente estar afetando o passado.
Aharonov e seus colegas previram há muito tempo que, para certos experimentos quânticos muito específicos, realizados em três etapas sucessivas, o modo como a terceira e última etapa é realizada pode mudar dramaticamente as propriedades medidas durante o passo intermediário. Assim, ações realizadas no futuro (na terceira etapa), seriam vistas afetando os resultados das medições efetuadas no passado (na segunda etapa).
Em particular, nos últimos dois anos, equipes experimentalistas realizaram repetidamente experiências com lasers que mostram que, ajustando o passo final do experimento, é possível introduzir amplificações dramáticas no montante pelo qual o feixe de laser é desviado durante as etapas intermediárias do experimento. Em alguns casos, a deflexão observada durante a etapa intermediária pode ser amplificada por um fator de 10.000, dependendo das escolhas feitas na etapa final.
Estes resultados estranhos podem ser explicados de forma simples pelo quadro traçado por Aharonov: a amplificação intermediária é o resultado da combinação de ações realizadas tanto no passado (na primeira etapa) quanto no futuro (na etapa final).
É muito mais complicado explicar esses resultados usando interpretações tradicionais da mecânica quântica, afirma Andrew Jordan, da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, que ajudou a conceber um dos experimentos com laser.
A situação pode ser comparada à forma como o modelo heliocêntrico do Sistema Solar, de Copérnico, e o modelo geocêntrico de Ptolomeu, ambos fornecem interpretações válidas dos mesmos dados planetários, mas o modelo heliocêntrico é muito mais simples e mais elegante.
Uma das ideias "selvagens" mais recentes de Davies foi a de uma viagem sem volta a Marte. [Imagem: NASA/JPL]

Consequências cósmicas

Embora os experimentos com laser estejam dando boas notícias para a equipe, Davies, Aharonov, Tollaksen e seu colega Menas Kefatos, da Universidade Chapman, na Califórnia, estão agora à procura de consequências cósmicas observáveis de informações do futuro influenciando o passado.
Um bom lugar para procurar é a radiação cósmica de fundo (CMB), o "brilho" remanescente do Big Bang. A CMB tem ondulações fracas de calor e frio e, trinta anos atrás, Davies desenvolveu um modelo com seu então aluno Tim Bunch que descreve essas ondas no nível quântico.
Davies e Tollaksen estão agora revisando este modelo no novo arcabouço quântico.
Físicos têm ideias já bem desenvolvidas sobre como era o estado inicial do universo e como pode acabar sendo seu estado final - muito provavelmente um vácuo, o resultado inevitável da contínua expansão.
A equipe está colocando estas ideias junto com seu novo modelo para ver se ele consegue prever assinaturas características da influência do futuro na CMB que possam ser captadas pelo telescópio espacial Planck.
"A cosmologia é um caso ideal para esta abordagem," afirma Bill Unruh, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. "Desde que Aharonov encontrou esses resultados tão estranhos em algumas situações, vale a pena olhar para a cosmologia."
Davies ainda não sabe se essas ideias vão produzir resultados. Mas se o fizerem, seria revolucionário.
"A coisa mais notável sobre Paul," avalia Michael Berry, da Universidade de Bristol, "é que ele tem ideias muito selvagens combinadas com extremo cuidado e sobriedade."
Este pode ser exatamente o caráter necessário para fazer um grande avanço. Pode até ser o destino de Davies, uma mescla de seu futuro e de seu passado.
Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=futuro-universo-influencia-presente&id=010830110830

quinta-feira, 1 de março de 2012

A IGREJA VOLTANDO ÀS SUAS RAÍZES

NOVA REFORMA OU RESTAURAÇÃO? A IGREJA VOLTANDO ÀS SUAS RAÍZES

Por Marcelo M. Guimarães (*)

Eu estou plenamente convencido de que a Igreja Evangélica não precisa de uma nova reforma, como muitos querem e defendem esta emergente necessidade. Mas, a cada dia que conheço mais a Palavra, a Bíblia, me deparo com quase uma outra igreja que existiu há 2000 anos, a Igreja de Atos dos apóstolos, a igreja do primeiro século, estabelecida nos ensinamentos da Torá, dos profetas, de Yeshua e de seus apóstolos.

Quando um avião sai da rota, um piloto experiente sabe que ele correrá um grande risco de errar completamente o destino ao tentar corrigir sua proa na posição que ele pressupõe estar. A instrução recebida neste caso é que ele faça uma guinada de 180º graus para se alinhar ao sinal de rádio que seu aparelho recebe do lugar de origem e com base nesta posição de origem, ele novamente toma a direção do seu destino. Ou seja, ele precisa tomar a direção de origem para novamente tomar a proa correta do seu destino. O mesmo precisa acontecer com a Igreja de Jesus. Ao se perceber algo errado na direção doutrinária, seus líderes deveriam voltar à origem, a Bíblia, e determinar ou interpretar corretamente seus santos princípios, corrigindo seus desvios. O que normalmente tem acontecido é a re-interpretação do que disseram os pais da igreja e fundadores de denominações, sem necessariamente comparar suas opiniões com a Santa Palavra de D_us. Neste contexto, a restauração vem com a proposta de continuar os princípios da reforma, porém, aprimorando-os, corrigindo-os e complementando-os com elementos bíblicos e apostólicos esquecidos e desprezados no séc. XVI. A restauração não anula a reforma, mas APRIMORA-A. A restauração é o desenvolvimento inevitável e natural dos ideais reformistas, pois viabiliza de forma verdadeira e corrigida uma de suas principais premissas: “sola scriptura” – A autoridade para as nossas vidas está APENAS nas ESCRITURAS (no contexto original e correto destas).

O termo “restaurar” fala por si mesmo e difere muito do termo “reformar”. O ato de reformar alguma coisa, como um sofá, por exemplo, dá a liberdade ao dono de colocar um novo tecido não necessariamente igual ao original. Se o original era couro, a pessoa tem a liberdade de trocá-lo por outro diferente, por exemplo, por um tecido plastificado, um curvin. Já no caso de restaurar algo, essa liberdade de escolha não existe, pois se trata de uma restauração, ou seja, é necessário usar o material original, sem nenhuma variação na textura, cor, densidade, etc. Portanto, o restaurar é fazer voltar ao estado de origem. Na língua hebraica o termo “TIKKUN” tem este sentido de retornar à origem, restaurar e consertar sem desvios do modelo original. O termo “TESHUVÁ” também pode ser usado, sendo traduzido por arrependimento, mudança ou conserto de direção.

A igreja tem sido reformada desde quando saiu do controle de Roma. Foi um bom tempo, creio! Mas agora se percebe uma necessidade urgente de mudança. Há muitos desvios, muitas divisões entre seus membros que se dizem pertencer ao mesmo Corpo de Cristo. São tantas as doutrinas, são tantas opiniões diferentes que se torna impossível unir esses irmãos novamente num só propósito e direção. Há um ditado judaico que diz que onde há três judeus, há quatro opiniões. Mas, eles continuam judeus e cooperam uns com os outros em função de uma causa maior, a preservação do judaísmo e de suas raízes. No meio evangélico vejo que onde há três evangélicos, há três completas diferentes denominações competindo entre si, tentando até mesmo a destruição uma da outra. Não são amigos, tornam-se inimigos por causa de dogmas. Uns se tornam inquisidores dos outros, estabelecendo seu padrão da única e soberana verdade. O que tenho visto é muitos hereges combatendo outros hereges. Teólogos de si mesmos, tentando acusar, difamar e caluniar irmãos do mesmo chamado Corpo de Cristo. É um caos e suas atitudes os condenarão, serão vítimas de seus próprios erros.

Eu tenho dito há muitos anos que aquilo que nos une como membros do mesmo Corpo precisariam falar mais alto do que nossas diferenças e interpretações doutrinárias. Se o que nos une é o Sangue de Cristo, o novo-nascimento Nele, nossa mudança de vida, nossa fé num só D_us, num só Messias, numa só Bíblia, isto precisaria falar mais alto do que nossas diferenças. Ou seja, eu creio que D_us quer nossa unidade, mesmo que haja diversidades de opiniões. Isto não é ser ecumênico, isto não é abandonar nossa liberdade de interpretação. Pelo contrário, deveríamos nos amar mais, servir mais uns aos outros e discutir menos os aspectos doutrinários e interpretativos. Afinal, revelações são para ser vividas e não para ser discutidas, pois a espiritualidade é individual e há níveis diferentes para o viver por fé, segundo a fé de cada um. Maturidade espiritual não vem de modo igual para todos. D_us trabalha com nossa individualidade. Ele nos vê como seres autênticos à Sua imagem e Semelhança e não como robôs evangélicos.

Urge que a Igreja ande e viva os princípios bíblicos vividos e proclamados pelos profetas, Yeshua e Seus apóstolos. Queremos ser restaurados rumo à igreja do primeiro século. Isto não é voltar ao primitivismo das coisas, mas sim resgatar princípios e instruções santas, eternas e imutáveis dadas pelo Espírito Santo de D_us. Portanto, marchemos rumo à igreja do primeiro século, restaurando nossas raízes da fé. É hora de reconstruir uma igreja santa, pura, sem mácula e sem defeito, cheia de poder, unção e união. Há uma Redenção total por vir, há um Reino por vir, há um Messias que reinará com Seus eleitos sobre as nações.

Não é fácil mudar conceitos. Imagino como Lutero sofreu com aqueles padres religiosos e zelosos com toda a tradição e fidelidade à sua ordem religiosa. Creio que é necessário um momento de reflexão, de coragem, e muita disposição para pagar um alto preço pela verdade. Lutero pagou um preço caro com sua própria excomunhão da Igreja Católica. Muita coisa mudou, mas será que a Reforma cumpriu seu papel cabalmente? Será que temos algo ainda a mudar? Será que já alcançamos uma estatura de fé e maturidade aos padrões de Cristo?
Nosso D_us é bom e eu já percebi que Ele gosta, na maioria das vezes, de trabalhar com lógica e no tempo determinado. Tudo precisa estar no Seu tempo. Ele também nos trata assim: devagar! A verdade é que nós não estamos preparados para uma mudança radical, corrigindo nossos próprios erros. Confesso que não sei o que acontecerá, mas sinto uma força dentro de mim que me impulsiona para frente, para ver e gerar uma Igreja pura, santa e sem defeito, sem ruga (Ef 5:27) e sem mácula, pois a 'noiva' dEle é nova. Esta é uma grande revelação que recebi do Senhor. A noiva é nova, pois ela não tem “rugas”. Isto me mostra que esta igreja que está aí liderada por santos homens de D_us precisará também passar por mudanças radicais. A Reforma não foi suficientemente eficaz para produzir uma noiva à altura (em fé e maturidade) do nosso noivo judeu, Jesus, o Yeshua HaMashiach. Poucas pessoas atentam para isto. Jesus, como judeu, procura uma noiva entre judeus e gentios, mas ambos crentes no coração e no contexto judaico da fé.1 O movimento judaico-messiânico autêntico tem dado uma pequena contribuição para esta conexão Igreja e Israel. Por outro lado, vemos a Igreja muitas vezes distante de suas raízes e propósitos. Há sem dúvidas, muitas coisas para serem mudadas tanto na Igreja como em Israel. Confesso que não avocarei para mim nenhuma responsabilidade de como mudar, dando fórmulas, ou dogmas, bulas, etc. Os pais da Igreja e da Reforma já fizeram isto e acabaram cometendo erros. Lutero, se estivesse vivo, estaria vendo a igreja Católica se esforçando por grandes mudanças para voltar e se moldar à Palavra. Os evangélicos que teriam, ao meu ver, grandes revelações, estão muitas vezes entretecidos com o evangelho da prosperidade e bens materiais, encantados com o relativismo e o poder da política. Oremos para que D_us levante homens profetas em nossos dias. Homens que falam por Ele e não o que descobriram ou sabem Dele. Oremos para que D_us levante verdadeiros evangelistas, mestres, pastores e apóstolos também, mas, sobretudo, profetas corajosos. Teremos que enfrentar principados e potestades jamais vistos nos tempos finais. E para isto estes homens terão que estar certíssimos de seu chamado divino, capacitados, disciplinados, destemidos para a guerra.

O que poderíamos fazer neste momento?

1- Primeiro, é necessário assumir uma atitude sincera e honesta em relação às fraquezas e imperfeições que os líderes da Igreja provocaram na comunidade, quando se afastaram de muitos princípios bíblicos vividos e promulgados por Yeshua e pelos apóstolos no primeiro século (Mat. 5:17-18; 1ª Cor. 7:19u.p.);

2- Segundo, deve-se reconhecer também que houve um distanciamento do contexto judaico do Novo Testamento e que uma grande gama de costumes e tradições pagãs se infiltraram na doutrina cristã;

3- Terceiro, estar convencido que é necessário começar um processo de mudança, voltando à origem e tomando os pontos falhos ou esquecidos pela Reforma;

4- A Igreja de Yeshua deve se arrepender nos pontos em que se desvirtuou, revendo sua doutrina e sua teologia, tendo como único padrão, a Bíblia, interpretada no contexto no qual foi escrita;

5- Deve-se ter a humildade de aceitar e reconhecer o que o Espírito Santo tem feito e que ainda fará no Corpo de Cristo;

6- Precisamos rever e reler o Novo Testamento no contexto judaico no qual ele foi escrito. Não se trata de judaizar a igreja. “Haz vê Halilá2, mas precisamos conhecer alguns textos no contexto original que mal interpretados fizeram com que a Igreja se separasse de Israel e de seu povo;

7- Precisamos voltar a estudar e entender os princípios da Torá e dos profetas e aplicá-los em nossas vidas para testemunho no caminhar pela fé. Há hoje um entendimento errôneo da Graça e da Lei de D_us. Hoje, a Igreja tem perdido muitas e muitas bênçãos por desco-nhecer a conexão entre a Graça e as instruções de D_us, a Torá.

8- Ser pacientes e tolerantes com aqueles que irão resistir contra a Restauração.

9- A Restauração está disponível para todos, mas isso não significa que todos da Reforma optarão por ela. Da mesma forma que a mensagem da Reforma está disponível a todos, mas a grande maioria dos católicos ainda não se atentou para ela nesses últimos 500 anos.

10- Oremos para que o Movimento da Restauração não venha acompanhado de um novo cisma no Corpo de Cristo.



Por onde começar a Restauração?

O Ministério Ensinando de Sião - Brasil não tem nenhuma “fórmula” ou “know-how” para rotular o que seria restauração e, tampouco, temos essa intenção. Nosso propósito é chamar atenção do Corpo de Cristo para a necessidade de voltarmos só para a Bíblia. Portanto, os pontos sugeridos abaixo são meras observações de cunho e experiência pessoal como já disse, não representando assim, nenhum ponto exclusivo, doutrinário ou teológico do movimento messiânico, o qual também necessita de restauração;

Nossa proposta de restauração abrange primeiramente o indivíduo como membro do Corpo de Cristo. Cremos que um indivíduo restaurado gerará uma família restaurada e um conjunto de famílias restauradas produzirá, consequentemente, uma igreja restaurada (a verdadeira noiva de Cristo).

Estamos num processo de oração e de busca por uma igreja santa, puramente santa e isto tem sido nosso pilar central. Temos um ‘noivo’ padrão, Yeshua, e queremos segui-lo. Portanto, não se trata de levar a Igreja gentílica a nenhum tipo de judaísmo ou tradições judaizantes. Mas, não podemos nos esquecer que nosso noivo viveu como judeu zeloso com seus princípios e tradições e que Ele não perdeu Sua identidade.

a) A restauração do Indivíduo: A restauração da alma do indivíduo é um tema bem conhecido por todos e por isso, dispensamos comentários. Crentes precisam valer-se da restauração para se livrarem da solidão, depressão, ansiedade e de outras doenças do mundo psíquico. Preocupam-se muito com a cura do corpo, enquanto muitas das causas das enfermidades estão na alma do homem. O Rei Davi disse: “A Torá é perfeita e restaura a alma.” 3

b) A Restauração da Família: O mover do Espírito Santo de D_us tem nos levado a isto. Logo depois ao movimento da cura interior, mais ou menos há 25 anos, a igreja engendrou muitos seminários e encontros para casais. O movimento “Casados para sempre” é um bom exemplo disso. Encontros nos lares também tem contribuído até hoje para que toda a família cumpra o propósito de D_us, vivendo em harmonia e estabilidade no plano divino. É a extensão da Igreja nas casas. Nossa família ainda é nossa primeira igreja. Precisamos fazer disso uma realidade em nosso meio.
c) A Restauração da Igreja: Esta tem sido agora a ênfase do momento e nosso ministério se sente chamado para ajudar nessa necessidade. Percebemos também que no mundo todo estão surgindo ministérios específicos de ensino mais do que em todos os tempos até então. É de novo o Espírito Santo de D_us agindo progressivamente, preparando sua noiva, Sua igreja. Precisamos questionar tudo o que estamos vendo, como por exemplo, devemos dividir o Corpo de Cristo em Células ou devemos deixá-lo como Corpo, porém mudando a forma de tratá-lo? Nossas comunidades e congregações devem ser menores a fim de que o presbitério fundamental de pastores, mestres, profetas, evangelistas e apóstolos possam trabalhar juntos ou em qual outro sistema devemo-nos considerar para nos livrarmos dos problemas da massificação, da falta de comunhão e unidade?
Neste tópico, Restauração da Igreja, poderíamos meditar em alguns pontos importan-tes, como:

1- Devemos checar com base exclusiva na Bíblia os vários dogmas advindos dos Concílios de Roma, principalmente, aqueles pós Concílio de Nicéia que separaram a Igreja da comunidade de Israel e do povo judeu e, consequentemente, gerando e agravando o antissemitismo e o antijudaísmo hoje ainda existente no meio cristão;

2- Idem, para aqueles itens advindos dos pais da Reforma, Lutero, Zwinglio, Calvino e outros. Por exemplo, as atitudes antissemitas de Lutero, o endosso à teologia da substituição, a desconexão da Igreja com Israel, etc., devem ser abandonados;

3- O exagero e abuso trazidos pelos movimentos americanos da “Palavra da Fé”, como por exemplo, o exagerado e incompleto conceito de prosperidade, vida fácil para aqueles que se convertem, sucessos financeiros pela fé, mercantilismo da fé, etc;

4- Buscar no Antigo Testamento outras bênçãos além dos dízimos e prosperidade, como, por exemplo, conhecer (não impor à igreja) os princípios divinos sobre qualidade de vida e inúmeros princípios éticos e sociais, relações familiares, de saúde, combate à pobreza, etc. mencionados largamente na Torá;

5- Entender no contexto judaico os princípios vividos e promulgados pelos apóstolos no primeiro século, como por exemplo, o conceito de unidade, comunhão, costumes e forma de estudar semanalmente a Palavra, (aqui entram o estudo das “Parashiot e das Haftarot” ou o Estudo da Torá e dos Profetas em porções semanais, como eram feitos na época de Jesus);

6- Eliminar de vez o comércio em nome da fé. Vendas de bênçãos, promessas, costumes pagãos que tentam materializar a fé através de objetos, líquidos e outros produtos, que levam mais a um sincretismo religioso do que a um crescimento saudável e maduro do viver pela fé;

7- Combater todo tipo de competição entre irmãos e entre denominações. Por exemplo, rádios e TVs evangélicas que são fechadas e não permitem a entrada de outra denominação diferente da sua;

8- Expurgar todo mundanismo dentro da Igreja, como por exemplo, festas pagãs, shows, comércios, etc;

9- Rever toda a estrutura da liderança da igreja. Por exemplo, os papéis dos presbíteros (restaurando suas funções ministeriais de pastores, mestres, profetas, evangelistas, apóstolos) e diáconos;

10- Deve ser revisto o conceito de igreja matriz que centraliza o controle sobre as congrega-ções ou filiais em várias cidades, estados e até mesmo em países. O princípio da Igreja local deve ser respeitado, mas isto não impede a ação apostolar;

11- Deve-se voltar para a obra missionária e social. A igreja evangélica tem feito muito pouco nessas áreas, principalmente, no aspecto social de ajuda aos carentes e pobres, quer sejam eles crentes ou não. Grandes investimentos são feitos em prédios, acampamentos e outros bens, enquanto outras recomendações bíblicas importantes são esquecidas. Por que não investir mais em áreas de aconselhamento pastoral, psicológico, mesmo na área da educação, da saúde e até mesmo assistência jurídica para atender aos membros carentes, uma vez que o serviço prestado pelas autoridades de nosso país deixa muito a desejar?

12- Envolvimento dos líderes da igreja com o Estado e com a política devem ser reavaliados. A bancada evangélica deveria trabalhar servindo aos interesses das comunidades que representam e não somente aos interesses das denominações às quais pertencem;

13- Voltar para as pequenas comunidades, bairros, ruas, desenvolvendo a pregação das boas novas e estudos bíblicos nas casas, às vezes é uma opção, se bem coordenada.

14- Restaurar o conceito de “Igreja” ou “Congregação” e “Israel”. A palavra igreja, no hebraico, kahal, é a mesma usada em Atos 2. A Igreja de D_us começou no Sinai e foi solidificada em Atos (os gentios participam da alimentação kosher da mesa messiânica):

a) No Monte Sinai, no dia de Shavuot, foi entregue a Torá como contrato de casamento entre D_us e os “chamados para fora” = Igreja (Kahal), ou no grego, “ekklesia”, com o mesmo sentido. É o remanescente justo de Israel (Ex 19:3), a oliveira do Senhor (Rm 11);

b) Esta igreja (Kahal) formada no Sinai é chamada de nação santa, reino sacerdotal (Ex 19:5);

c) Esta igreja (Kahal) foi formada pela descendência natural de Abraão, mas extensiva aos estrangeiros que creram no D_us de Israel e quiseram sair do Egito (Ex 12:38);

d) Mas, esta igreja (Kahal) quebrou o contrato de casamento (Torá) por causa do coração de pedra (Jr 31:32; Zc 7:11-12);

e) Com o estabelecimento da Nova Aliança no sangue do Cordeiro Yeshua (profecia de Jr 31:33), o Espírito Santo, como em Shavuot (pentecostes), foi renovado neste contrato do Sinai com Sua igreja a fim de que todos agora (judeus e não-judeus) possam obedecer à Torá e ao Evangelho de Yeshua (Ez 36:26-27);

15- É necessário contextualizar o evangelho, biblicamente, conforme os princípios vividos e proclamados pelos apóstolos no primeiro século; por outro lado, os judeus crentes que foram descontextualizados para várias denominações precisam agora resgatar sua identidade judaica, vivendo em testemunho como judeus crentes, messiânicos;

16- Querendo ou não, o cristianismo é judaico em sua essência (Rm 1:16; Jo 1:11);

17- O antissemitismo é anticristão (o judaísmo bíblico é a base do cristianismo; há pro-messas para Israel e o povo judeu ser salvo. A oliveira, a família de D_us, é constituída de judeus e gentios - Ef 2; Rm 11;

18- Deixar de levar as boas novas aos judeus é uma forma de antissemitismo. Porém, não se evangeliza Israel com panfletos jogados em sua janela. É necessário amá-los e aproximar-se deles, não impondo dogmas, porque na verdade a fé genuinamente cristã é uma fé de origem judaica. Mas, deve-se mostrar com base no “Tanach4 a pessoa do Messias Yeshua judeu. Nunca devemos desconectar o judeu do judaísmo bíblico para transformá-lo em um membro de uma congregação evangélica. Ele é judeu, crê na mesma Bíblia (Antigo Testamento) que você crê, então, basta apresentar a ele a Pessoa do Messias Yeshua que veio ao mundo para ISRAEL e também todos os que através dEle desejem compartilhar da Aliança que o D_us Criador tem com esse Israel. São inúmeras também as passagens bíblicas no Antigo Testamento que nos ensinam a diferenciar o Jesus como Ben Yosef (filho de José – que veio morrer no madeiro fazendo-Se maldição pelos nossos pecados) e o Jesus como filho de David, quando voltará para estabelecer um reino de paz e poder;

19- Como será abençoada a Igreja?

- “Abençoarei os que te abençoarem (bênçãos espirituais e materiais)”- (Gen 12:3; Rm 15:27);

- Como já foi dito acima, levando as Boas Novas aos judeus você estará colaborando para a vinda do Messias em Glória.(Rm 11:15);

- “Orai pela paz de Jerusalém; prosperem aqueles que te amam”. A Igreja se esquece muitas vezes que o inferno não prevalece contra ela, e por isso, ela pode gerar a salvação de Israel orando por Jerusalém. Orar por Jerusalém nos traz prosperidade. Por que não podemos ter o hábito de orar por Jerusalém em todos os cultos e encontros que se tem na igreja? Por que não?!

20- Como será abençoado o povo judeu?

- Pela igreja gentílica enxertada na oliveira verdadeira, levando para eles a seiva de Yeshua;

- A igreja irá colocar ciúmes no coração de Israel e nos judeus não-crentes. Pelo amor e misericórdia para com eles todos serão alcançados (Rm 9:11,26).

21- D_us concluirá seu plano de salvação para com os judeus e a nação de Israel (Rm 11:26) e implantará Seu reino (Ap 20:2) com seus eleitos judeus e gentios justificados pela pessoa do Messias Yeshua HaMashiach;

22- ...” Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente logo venho. Amém; vem, Senhor Jesus. (Maran´atá!). A graça do Senhor Jesus seja com todos.” 5

Estamos apenas no começo de uma nova visão para a Igreja. A Reforma foi boa, mas agora queremos algo mais genuíno e original. Queremos nossas raízes da fé de volta. Queremos nosso Messias judeu que foi ao longo dos tempos descaracterizado de Israel e de Seu povo. Queremos ver a família de D_us unida, judeus e gentios em Cristo (Ef 2:19). Queremos receber uma nova unção de cura, milagres e maravilhas como na época da igreja do primeiro século. Por outro lado, se queremos o poder da Igreja do primeiro século, com certeza também virá sobre nós a perseguição da Igreja daquela época. Mas, o que queremos é cumprir o propósito do Senhor e orar para que Ele abrevie o seu retorno. Amém.



(*) Marcelo Miranda Guimarães - Engenheiro Industrial, MBA em Economia, Teólogo, Rabino Messiânico ordenado pelo Netivyah Bible Instruction Ministry-Jerusalem-Israel com endosso da UMJC (Union of Messianic Jewish Congregations). Fundador do Ministério Ensinando de Sião, do Cates, da Abradjin e da Congregação Har Tzion em Belo Horizonte-Brasil.



NOTAS EXPLICATIVAS

1 Emuná no hebraico, significa fé e obediência, pois não há sentido em crer e não obedecer.

2 Has vê Halilá , no hebraico, significa “de jeito nenhum!” ou “não permita D_us!”. Termo usado frequentemente pelo Apóstolo Paulo e profetas.

3 Salmo 19:7.

4 Tanach, Acróstico das palavras Torá, Niviim e Chetuvim, ou seja, o Pentateuco, os profetas e os Escritos que compõem o chamado Antigo Testamento.

5 Apocalipse 22:20-21.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

OS MANUSCRITOS ORIENTAIS DA BÍBLIA

COMO A PESHITTA CHEGOU ATÉ NÓS



Gostaria de compartilhar com todos um trabalho sobre a "Bíblia Aramaica perdida de Kerala" feito por KRN Swamy, colunista sobre patrimônio cultural, no Deccan Herald, um conhecido jornal indiano (http://www.deccanherald.com/). Este artigo traça a linha de acontecimentos desde os primórdios da fé cristã na Índia, mostrando como a Peshitta siríaca foi preservada milagrosamente de destruição até chegar ao Ocidente no século XIX.

OS MANUSCRITOS ORIENTAIS DA BÍBLIA

(traduzido e adaptado por Allan G. Araujo)

1. Bíblia Peshitta

A Bíblia das igrejas siríacas é conhecida como Peshitta. É a versão padrão da Bíblia cristã no siríaco (ou aramaico), língua utilizada em igrejas com herança síria. Enquanto a maior parte da igreja primitiva (ocidental) invocou a Septuaginta Grega, ou traduções a partir dela, no seu Antigo Testamento, as igrejas falantes do siríaco tiveram seu texto traduzido diretamente do hebraico.

O Antigo Testamento da Peshitta foi traduzido do hebraico por volta do segundo século da Era Cristã. O Novo Testamento da Peshitta tinha-se tornado o padrão até o início do quinto século, substituindo duas primeiras versões siríacas dos Evangelhos.

Em pouco tempo vários livros do Evangelho estavam em circulação. Tatianus, da Assíria, que pregou o Cristianismo na Mesopotâmia utilizando canções em versos, produziu uma versão unificada, em um livro de quatro Evangelhos. Esta versão unificada ficou famosa pelo nome Diatessaron, que significa "harmonia dos quatro". O Diatessaron foi utilizado como o texto padrão do Evangelho na comunidade cristã Siríaca. Isto foi testemunhado por muitos escritores sírios, como Mar Efraem o Sírio.

Os Atos do Apóstolo Mar Thoma (São Tomé) e Atos do Apóstolo Mar Addai foram as outras versões circulantes do Evangelho na história primitiva.

O nome de Rabbula, bispo de Edessa (435 EC) está relacionado com a produção e a substituição do Diatessaron e dos Atos pela Peshitta.

Todas as Igrejas Cristãs Mar Thoma utilizam a versão Peshitta em malaiala.

2. A Bíblia Aramaica perdida dos cristãos sírios de Kerala

O novo filme de Mel Gibson, “A Paixão de Cristo”, filmado inteiramente em aramaico (a língua falada por Cristo) e o latim, acabou por se revelar um grande sucesso de bilheteria. Com isso, espera-se que haverá um interesse renovado na agonizante língua do aramaico! Pode ser desconhecido para muitos que Kerala é um dos poucos lugares do mundo, onde, ainda hoje, o siríaco (um dialeto do aramaico) ainda é utilizado nos rituais da Igreja Sírio-Malabar local, reputadamente estabelecidos por Mar Thoma (Apóstolo Tomé), em 52 EC.

De fato, as universidades de Kerala oferecem cursos em siríaco/aramaico! Neste contexto, a história da 'Bíblia aramaica perdida' no século 16 em Kerala e como ela sobreviveu por séculos de 'ocultação' durante a era Portuguesa do Cristianismo na Índia é muito interessante.

Os exemplares da Bíblia, com exceção dos pergaminhos do Mar Morto, são o Codex Vaticanus na Biblioteca do Vaticano e do Codex Sinaiticus no Museu Britânico. Mas a Igreja Anglicana obteve no século 19 as cópias da Bíblia aramaica de Kerala, que se supõe serem tão antigas quanto as cópias no Vaticano e em Londres. Estes tesouros nacionais indianos estão agora na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

A Bíblia era originalmente em aramaico, hebraico e grego, e no início do quinto século EC, São Jerônimo a traduziu totalmente para o latim. Embora esta versão da Bíblia, conhecida como Bíblia Vulgata, seja a principal versão majoritária utilizada pela Igreja Católica Romana (ICAR), existe outra versão guardada por um ramo do Cristianismo que tinha se estabelecido em Antioquia, na Síria. Sua versão da Bíblia supõe-se ter sido levada a Malabar, na Índia, com o Cristianismo, remontando ao primeiro século EC, após a chegada de Mar Thoma (São Tomé), um dos doze apóstolos de Cristo. Os arcebispos da Igreja Malabar tinham sido nomeados pelo Patriarca (chefe da Igreja Ortodoxa Oriental) de Antioquia e os sacramentos siríaco-cristãos de Malabar formam uma das mais antigas liturgias no mundo. A versão síríaca da Bíblia difere da versão católica romana e é considerada a Bíblia original, porque foi trazida para a Índia antes de 325 EC, o ano em que o Concílio Cristão de Niceia, decidiu codificar a Bíblia de acordo com a versão da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

A comunidade cristã indiana em Malabar, no entanto, continuou a seguir a versão siríaca. Em 1498, os portugueses chegaram à Índia, trazendo com eles os princípios da ICAR. Mesmo tendo ficado felizes por encontrar uma comunidade cristã nativa em Malabar, os portugueses estavam determinados a eliminar a influência do Patriarca de Antioquia da Igreja Indiana e pretendiam que os cristãos indianos transferissem sua aliança para o Papa, em Roma. Isto provocou conflitos frequentes entre os portugueses e a comunidade cristã indiana em Malabar. Finalmente, em 1599 EC, o Arcebispo Menezes de Goa, como o representante do Papa na Índia, decidiu que a principal causa da obstinação dos cristãos indianos era a sua interpretação da Bíblia, com suas diferenças em relação à versão católica romana. Então ele decidiu que a "Bíblia siríaco-aramaica" deveria ser destruída.

Empregando métodos de intimidação e bajulação, com manifestações de poder armado, ele levou o clero sírio cristão da Índia a trazer toda a sua literatura teológica para Uday-Amperor (conhecida pelos portugueses como Diamper) em Malabar. Lá ele convocou um Sínodo, cuja finalidade foi a de eliminar "erros" da Bíblia Siríaca. Neste Sínodo, que durou uma semana, todos os manuscritos sírio-aramaicos, que não concordavam com a versão católica romana da Bíblia foram queimados, juntamente com outros documentos, que teriam sustentado os cristãos sírios em suas crenças. Em uma tacada, os portugueses eliminaram todos os manuscritos e documentos relacionados com o Cristianismo Siríaco Indiano antes de 1599 EC. Além disso, a biblioteca completa do arcebispo sírio em Angamale foi destruída. Estes atos de destruição literária tem sido considerados pelos historiadores como vandalismo, comparável à queima da Grande Biblioteca de Alexandria pelo califa Omar, em 643 EC.

O clero siríaco não tinha suspeitado de tais intenções ímpias dos portugueses, e era tarde demais para seus líderes, chocados, salvarem algum dos livros teológicos. Mas, providencialmente, o comunicado do Arcebispo Português de trazer volumes teológicos a Uday-Amperor, não tinha atingido uma das igrejas remotas da montanha do centro de Malabar, e uma cópia da versão siríaca da Bíblia escapou da destruição! Mais tarde, esta cópia passou a ser o mais preciso volume da Igreja Síria na Índia e um véu de segredo rodeou esta Bíblia, que estava "perdida", seu paradeiro era conhecido apenas de muito poucos nos escalões superiores da Igreja Síria.

Dois séculos depois, um missionário britânico chamado Dr. Claude Buchanan veio a Malabar e estava interessado na história dos cristãos sírios dos quais ele fez muitos amigos neste lugar. Ele também conseguiu ganhar o coração de Mar Dionysius, o chefe da Igreja Cristã Síria. Em 1807, Mar Dionysius mostrou-lhe a 'Bíblia Perdida'. Citando o Dr. Buchanan, "O volume continha o Antigo e o Novo Testamento em relevo forte velino em grandes fólios, com três colunas em cada página e foi escrito com bela precisão. Os caracteres eram de Siríaco Estrângela e as palavras de cada livro eram numeradas. Mas o volume tinha sofrido o prejuízo do tempo e da negligência. Em algumas páginas, a tinta foi totalmente apagada da página, deixando o papel em sua brancura natural, mas, em geral, as letras podem ser claramente identificáveis pela pressão da caneta usada pelo copista ou pela corrosão parcial da tinta".

O Dr. Buchanan discutiu com o Arcebispo sobre a frágil condição do volume e disse-lhe que, no caso de o livro ser entregue a ele, ele o imprimiria e, assim, estaria preservado para a posteridade. Embora tenha sido uma decisão muito difícil para o Arcebispo, pois o volume havia sido conservado por mais de mil anos, ele sabia que os ingleses estavam se tornando rapidamente os comandantes da Índia e que eles, em comparação com os portugueses, eram mais confiáveis, quando tratavam com outras convicções religiosas. Mais importante ainda, o Arcebispo estava inseguro quanto à forma de quantos anos mais a Igreja Síria seria capaz de preservar a 'Bíblia Perdida'. Apenas uma década antes, a destruição de igrejas indianas pelo sultão Tipu tinha apagado muitos marcos históricos e até mesmo a famosa Missão em Verapoly havia perdido todos os seus manuscritos, assim como o barco que transportava os tesouros restantes afundou em águas profundas. Assim, o Arcebispo considerava que, uma vez impressa, esta antiga versão estaria segura para sempre. Então, ele deu o volume dos manuscritos ao Dr. Buchanan.

Dr. Buchanan, ao voltar, doou estes volumes de 1000 anos de idade e muitos outros manuscritos siríacos à Universidade de Cambridge, onde eles ainda estão preservados na Biblioteca Universitária. Em 1815, esta antiga Bíblia foi impressa pela British and Foreign Bible Society (Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira). Teólogos cristãos observaram, para sua agradável surpresa, que esta versão siríaca era livre de muitas das "inserções posteriores" que predominam na Bíblia moderna e, portanto, provou-se ser um volume de referência valiosa.

Para a Índia, é uma questão de grande orgulho que este país, cujas principais religiões incluem o Hinduísmo, o Islamismo, o Cristianismo, o Budismo, Jainismo e o Sikhismo, e o último refúgio do Zoroastrismo e da fé judaica na Ásia, tenha sido também o país onde tais cópias raras da Bíblia foram preservadas com êxito ao longo de séculos, até mesmo antes da Europa aceitar o Cristianismo.

Referências:
[1] “The lost Aramaic Bible of Syrian Christians of Kerala” é uma reprodução do artigo de KRN Swamy, colunista sobre patrimônio cultural, no Deccan Herald, datado de 11 abril de 2004.

Extraído da homepage Nasrani Syrian Christians Network.
Fonte: http://allaraujo.blogspot.com/2009/04/como-peshitta-chegou-ate-nos.html