Todos contra o Estado Islâmico
Resposta
ao terrorismo em Paris e no Sinai multiplica os bombardeios a Raqqa e pode
forjar uma aliança entre Moscou e a OTAN
Vladimir Putin e Barack Obama em Antalya, na
Turquia, durante encontro do G-20, na 2ª-feira 16
Na terça-feira 17, o serviço secreto russo (FBS, ex-KGB) confirmou
que a queda em 31 de outubro do avião da companhia russa Metrojet no Sinai e a
morte de todos os seus 224 ocupantes foram provocadas por uma bomba na seção de
passageiros. Segundo a revista Dabiq do Estado Islâmico, o explosivo foi
acondicionado em uma lata de refrigerante.
Especula a mídia russa que o
artefato foi posto debaixo de um dos assentos por cúmplices entre os
funcionários do aeroporto de Sharm El-Sheikh. Uma recompensa de 50 milhões de
dólares foi oferecida por Moscou a quem fornecer informações que levem à
captura dos responsáveis.
Somado aos atentados da
sexta-feira 13 em Paris, esse ataque pode ter viabilizado o que até agora
parecia impossível: a cooperação direta e eficaz entre a Rússia e as potências
da Otan contra o Estado Islâmico. Agora talvez haja acordo entre Bashar
al-Assad e os rebeldes não fundamentalistas para ajudar a varrer do mapa o
“Califado” de Al-Baghdadi.
Vladimir Putin pedia há
meses uma aliança comparável à de Stálin, Franklin D. Roosevelt e Winston
Churchill, mas foi preciso os jihadistas imitarem Adolf Hitler e provocarem uma
guerra em duas frentes, que igualmente pode vir a se mostrar um excesso fatal
de autoconfiança de sua parte.
O EI sofreu também um revés
importante em terra com a perda da cidade iraquiana de Sinjar. Essa ligação
crucial entre as duas cidades mais importantes do “Califado”, Raqqa e Mossul,
foi retomada na sexta-feira por forças yazidis e curdas (inclusive o PKK,
nêmese da Turquia).
Desde já, a Rússia sentiu-se
autorizada a mobilizar alguns dos recursos mais impressionantes de seu arsenal,
sem nenhum dirigente ocidental se atrever a criticá-la. Vinte e cinco dos seus
141 grandes bombardeiros estratégicos Backfire, Bear e Blackjack partiram da
Ossétia, sul da Rússia, para somar-se aos helicópteros e caças Sukhoi com base
na Síria nos ataques contra os fundamentalistas.
Para uma comparação, os EUA
nunca chegaram a usar mais de oito dos seus 101 bombardeiros estratégicos B-1,
B-2 e B-52 no Iraque. Suas incursões se somam às dos Rafale e Mirage franceses,
que redobraram esforços depois do ataque a Paris e às já rotineiras da coalizão
anglo-árabe-americana, que já duram mais de um ano.
Simultaneamente, a Rússia
lançou uma barragem de mísseis de cruzeiro a partir de seus navios de guerra no
Mediterrâneo e ofereceu cobertura ao porta-aviões nuclear francês Charles de
Gaulle, que partiu de Toulon, França, na quinta-feira 18 para se juntar aos
combates.
Infelizmente, parece não
haver como evitar que essa escalada atinja também os civis em territórios
controlados pelo Estado Islâmico ou outros rebeldes. Desde o início da guerra
civil, 250 mil sírios foram mortos, 7,6 milhões estão refugiados dentro do país
e 4 milhões buscaram asilo no exterior.
Houve 329 ataques a
instalações médicas, dos quais a ONG Physicians for Human Rights atribui 90% ao
regime Assad, dez à Rússia, um à coalizão ocidental e o restante aos rebeldes.
Raqqa, histórica cidade
síria de 200 mil habitantes que serve de capital ao Estado Islâmico, foi o alvo
preferencial dos últimos bombardeios russos e franceses e sua população civil
não tem como escapar da armadilha. Segundo testemunhos de ativistas, civis
“condenados” por pequenos delitos estão sendo forçados a combater ou a
trabalhar na linha de frente.
Os militantes do EI se
mudaram para casas vazias em bairros residenciais abandonados e só usam ruas
laterais para evitar bombardeios e ataques de drones. Todos os jovens em idade
militar foram intimados a se registrar para eventual convocação militar.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/todos-contra-o-estado-islamico-8157.html?ref=yfp
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